Ao percorrer hoje Portugal, não se pode também deixar de questionar como foi possível a Orlando Ribeiro ter estado em tantos lugares. Portugal é um território relativamente pequeno, mas assume em muitas das suas regiões, sobretudo a norte do Tejo, características labirínticas que exigem morosidade ao viajante que as atravessa. Quando Orlando Ribeiro começa a fotografar, não havia uma única autoestrada em Portugal. Curiosamente, o caminho de ferro estava na plenitude do seu funcionamento e cobria quase todo o território português de Bragança a Faro. No entanto, a rede viária era muitíssimo precária. O acesso a muitas das paisagens que Orlando Ribeiro fotografou era feito apenas a pé, particularmente ao alto das serras, como essa nossa montanha maior que é a serra da Estrela, a que Orlando Ribeiro dedicou numerosos escritos. Hoje, com muito maior facilidade, comodidade e rapidez, percorremos quase todas as paisagens, poucos lugares sobram a que não se chegue de automóvel. Certamente que a demora das viagens feitas em décadas remotas do Portugal de então marcou indelevelmente o olhar de Orlando Ribeiro. (pp.17-19)
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Detalhe de caderno de campo de Orlando Ribeiro. Vale de Lobos, 1997.