Há qualquer coisa de intrusivo, de voyeur, ao seguir os passos de Orlando Ribeiro, mais agora do que quando fotografara a sua casa de Vale de Lobos. Estar nos mesmos exatos locais em que esteve o geógrafo nas suas tomadas de vista é ocupar o lugar que ele próprio ocupou décadas antes. É descobrir a sua posição no espaço, no contexto de uma imensidão de possibilidades que sempre se colocam a quem fotografa os lugares. É quase assumir a sua pele, o seu raciocínio, na opção por um determinado ângulo e não outro. Este é um jogo inverso ao das «escondidas» das nossas infâncias, é o diálogo com uma ausência que decorre de uma perseguição: a perseguição de um olhar humano concreto, mas também, talvez mais, de um tempo e de um espaço que se perderam, que se transformaram, muitas vezes abruptamente. Deste diálogo, virtual mas analógico, com Orlando Ribeiro, viajamos também pelas suas opções técnicas, ou talvez melhor, pelas limitações que lhe eram impostas pela tecnologia do tempo que habitou. Quase todas as suas fotografias foram feitas com câmaras Leica, de fabrico alemão, consideradas as melhores máquinas fotográficas no formato 35 mm, popularizado em 1925, não muitos anos antes do momento em que Orlando Ribeiro adquire a sua primeira câmara, em 1937. A lente que utilizou em quase todas as suas fotografias foi uma objetiva de 50 mm, dita normal, por corresponder, sensivelmente, ao ângulo de visão humano.
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