Observamos o mistério da vida geológica, encontramos uma dimensão pétrea do tempo e a relação com o nosso próprio tempo, humano e fugaz. Há uma dimensão telúrica que se joga na paisagem açoreana, onde se sente o respirar da Terra. Os processos erosivos, provocados pela acção do mar, do vento e da chuva, vão consumindo o vulcão naquele que continua a ser um invulgar documento vivo da história da Terra. Estas fotografias pretendem ser o relato de um pouco desse fascínio, do habitar o vulcão durante alguns dias, de percorrer os seus caminhos, registar uma terra nova sob vários pontos de vista, sob diferentes condições meteorológicas, que nas ilhas açoreanas são muito variáveis, mesmo ao longo de um só dia. Procurar aí a matéria do nosso ser, a origem do nosso caminhar, de um olhar distanciado, confortável e inquieto. Os Capelinhos parecem querer contrariar a perenidade das rochas e a nossa própria noção de tempo. Há uma montanha efémera que é quase mais breve que as nossas vidas No vulcão dos Capelinhos habitamos um ser vivo que se move e se alimenta da mais poderosa força conhecida. Ao mostrar-nos como foi construído o chão que pisamos, de alguma forma o pequeno vulcão também nos fala da nossa própria história como seres biológicos. Sobre a espuma arrefecida de metais densos, construímos as nossas cidades, o desígnio e o sentido do habitar.