Os utensílios de cozinha de Olívia e Joaquim são a dimensão menos conhecida de um ofício que deixou nestes objectos uma marca profunda e significante. Um trabalho contínuo e demorado, persistente, fiel a uma metodologia centenária de confecção culinária que, acima de tudo, estabelecia uma relação de verdade e de honestidade com o produto acabado: uma doçaria sempre leal às suas raízes mais remotas, a um garantido e refinado sabor. São fotografias do contraste entre uma forma ancestral de trabalhar os ovos, o açúcar, a farinha, as amêndoas, as nozes, o chocolate e os actuais métodos de produção massificada. Demonstram a vivência demorada, de fabricação lenta, que nos foi dado a provar numa doçaria singular. “O trabalho quer amor”, dizia Olívia. As fotografias da casa e do quintal, que definem um segundo momento neste livro, começaram por ser uma recolha insipiente, desde um tempo, de alguma forma experimental, em percursos de linguagem fotográfica, para, progressivamente, se ir tornando no registo sistemático de um espaço habitado ao longo do tempo. As primeiras fotografias foram feitas em 1982 e as últimas em Agosto de 1998, numa altura em que a casa já não era habitada há vários anos.