loriga
Miradouro sobre Loriga, de onde Orlando Ribeiro fez a fotografia 5619, em 1954.

Em escritos tardios e algumas fotografias, como aquela que mostra um bairro novo na Guarda, Orlando Ribeiro sente, de uma forma inquietante, a transformação do seu mundo e a perda de alguns valores com que sempre convivera. O primeiro sinal dessa transformação dá-se nos arrabaldes dos maiores aglomerados urbanos a partir de meados dos anos sessenta, com uma vaga poderosa de emigração do interior de Portugal, particularmente do Norte, não apenas para o estrangeiro, mas também para as grandes cidades do litoral. Aqui, dá-se uma primeira fase da transformação do território: o esvaziamento dos campos e o alargamento, em mancha de óleo, de cidades como Lisboa e Porto. Mas a desertificação dos campos agrícolas é acompanhada, quase em simultâneo, por novas habitações construídas nas primevas aldeias. São as casas de sonhos dos emigrantes, a sua escala muitas vezes desmesurada e os materiais de construção, ferro, argamassas de cimento, tijolo e alumínio, são como que o grito de vitória sobre uma ancestral pobreza, são a afirmação do resultado de uma luta que os terá elevado a um patamar superior de desenvolvimento social. Aqui está já a génese de todo um intrincado processo de desestruturação dos territórios humanos. As limitações impostas pelo meio exterior vão ser cada vez mais ténues e sobre elas surge uma nova ordem, que parece resultar apenas da capacidade inventiva de novas formas arquitetónicas desenvolvidas, quase sempre por técnicos sem as mínimas habilitações ou capacidades para o fazer. (p.303)