A Biblioteca é um organismo singular e único. Lá dentro, pode habitar-se uma vida inteira sem esgotar o território da colecção bibliográfica nacional, um mundo onde estão o olhar e o pensamento sintetizados, reflectidos, de toda a humanidade que foi, ou tocou, Portugal. Mas, nos seus limites, a Biblioteca também nos mostra as fronteiras desse mundo do conhecimento transmitido, para lá do qual outro desafio constantemente nos foge, se bifurca, segue os trilhos do desconhecido e do medo: que livro falta na Biblioteca? Que livro não foi escrito? Como poderemos chegar a esse livro? Que novas portas nos poderia abrir? Que outros universos desvendaria? Não há aqui o desejo de demanda do divino, há um mundo terreno, o fascínio de um percurso que nos construiu como espécie, com a nossa cultura, com todas as nossas impossibilidades, onde a crueldade e o amor se encontram em cada um de nós. Nos comboios de livros — assim são chamadas as estantes da Biblioteca por quem nela trabalha — podemos viajar para um infinito não específico, vasto, em campo aberto como numa imaginada viagem sideral; ou para uma cada vez mais ínfima dimensão, numa direcção cada vez mais contida, num espaço progressivamente reduzido, que nos é despoletado por uma palavra, uma frase, um desenho, uma fotografia.