As fotografias de Foz Côa foram realizadas no âmbito de uma polémica que resultou do projecto de construção de uma barragem, no vale do rio Côa, próximo do rio Douro. A barragem iria submergir um conjunto de gravuras rupestres, ao ar-livre, datadas do Paleolítico Superior, que haviam sido recentemente descobertas pela comunidade científica. Trata-se de um conjunto notável e único, pela quantidade e qualidade, de desenhos gravados no xisto, que se desenvolviam por uma extensão de cerca de dezassete quilómetros. São desenhos voltados para o rio, em ambas as margens, numa paisagem com um carácter telúrico fortemente acentuado, pela natureza do ondulada do relevo, pelo coberto vegetal, pelo clima e pela presença do rio. As fotografias pretenderam dar conta dessa realidade. Da relação de proximidade entre uma intervenção humana delicada, mas forte no conceito de marcação de um lugar. Era, numa antiguidade remota, o enunciar de um desejo humano de transformação da paisagem.