Fotografia (1/2)

Fotografias como fascínio de tentar registar os lugares, a transformação que o tempo opera no espaço. Tentar, com uma câmara fotográfica, registar o tempo que passa. A permanente mutabilidade de tudo o que olhamos. Seduz-me, nestes passos, um percurso cada vez mais dentro das palavras, de um seu significado profundo. Na falta da habilidade para habitar esse mundo de poesia disperso-me na obstinação das fotografias, sobretudo fotografias de lugares, na tentativa de os captar, naquele que é para mim agora um evidente descontrolo dessa impossibilidade. Num número de fotografias que não pára de aumentar, encontro uma das faces mais sedutoras desta tarefa. Caminho no limiar de uma ruptura que é atenuada na escuridão, na ausência da luz. Talvez encontre aqui a palavra e na palavra o mais belo meio de comunicar, pela ilusão de o pensar capaz de expressar de uma forma concreta, uma sequência encadeada e lógica de pensamentos. É na materialização, na objectivação do pensamento que a humanidade procura a sua possibilidade e a justificação de um sentido para a vida. Vou habitando esta realidade que se expressa de uma forma sempre inquietante quando, ao passar por um lugar anteriormente fotografado, o encontro de uma forma que me parece diferente do que a vira no passado. Nesta diferença há uma dimensão fractal. Mais uma vez me confronto com os limites da possibilidade de um documentalismo de rigor, pois peca por excesso de informação. Mas aqui entro num jogo irresistível. Como ludibriar esta vertigem obsessiva objectivada em milhares e milhares de fotografias de lugares? Procuro, de uma forma absolutamente racional, metodologias para dominar este fluxo de informação. É através destes processos de fazer que depois procuro dominar e definir limites para o uso das fotografias e construir objectos de comunicação, livros.

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