1690-1944 Estrada Monsanto-Idanha-a-Velha. Monsanto. Idanha-a-Nova. Castelo Branco
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Quando observado de sul, de uma estrada recente que liga Idanha-a-Velha a Monsanto, um imenso morro granítico surpreende por uma beleza enigmática e perplexidade que causa ao viajante. A paisagem que domina a campina da Beira Baixa é acentuadamente plana e este acidente geológico, definido por Monsanto, parece erguer-se na vertical para definir um ponto de referência e identidade de todo um vasto território. Foi certamente por este posicionamento que o lugar tem marcas de povoamento desde a Pré-História, até, ininterruptamente, aos nossos dias. Teve muitas vicissitudes ao longo dos séculos, mas o facto que lhe terá granjeado maior fama foi a sua classificação, em 1938, como aldeia mais portuguesa de Portugal, em campanha de propaganda nacional interna, levada a efeito pelo Estado Novo. É curioso como uma das mais insólitas, excêntricas, talvez, aldeias portuguesas tenha recebido tal galardão. (pp.106-107)
«No fim da era terciária reinou também nas nossas latitudes um clima árido, com chuvas escassas, concentradas, particularmente impetuosas e violentas nas montanhas, donde saíam torrentes de água e lama, dotadas de grande poder de desgaste e de transporte. Então ao pé das serranias acumulam-se desordenadamente materiais grosseiros arrancados delas. Prossegue a demolição do relevo, recua o flanco montanhoso para deixar em vez dele uma superfície plana, ora muito regular, ora coberta de espessos depósitos de calhaus enormes, soltos ou envolvidos em argila avermelhada, ou acidentada de cristas e de montes-ilhas, que se levantam bruscamente da terra plana como ilhas no meio do oceano. Os cabeços graníticos do Monsanto e da Moreirinha, logo ao pé, são bons exemplos de relevos deste tipo. O viajante que contemple esses fraguedos medonhos, essas penedias de blocos, encavalitados uns sobre os outros, pensa naturalmente em bruscas convulsões das entranhas do Globo, numa espécie de Dies irae do planeta. A história natural destas pedras solenes é mais simples: a acção lenta das águas, o implacável desmoronar das montanhas, que têm por si o factor mais poderoso das modificações da expressão terrestre — o tempo!» (Orlando Ribeiro. Uma região portuguesa de transição: a Beira Baixa, 1944. Opúsculos Geográficos. VI. Estudos Regionais, 1995)