Processo (1/2)

Neste percurso que envolve a fotografia de lugares, paisagens ou arquitecturas, há uma constante sensação de perda, de um tempo que flui num turbilhão que não podemos parar. A dimensão inexorável da impossibilidade de um regresso. Fotografo com a noção clara que estou a deixar muito por fazer, que não posso registar. A rapidez voraz da fotografia digital e o seu menor custo em relação à tecnologia analógica que a antecedeu, permite uma relação mais descontraída com o disparo compulsivo de fotografias. As alterações metodológicas na gestão de um arquivo fotográfico digital, também permitem uma série de possibilidades e de acessibilidade a fotografias 'recônditas' que anteriormente nos obrigavam a um processo muito mais moroso. Mas esta falsa ilusão de facilidade, de um registo e catalogação dessas imagens tornam ainda mais evidente a impossibilidade de um registo completo. Aproximamo-nos de um limite que sabemos que nunca vamos alcançar. Não há o cume de uma montanha que se atinge e termina um objectivo. Aqui os objectivos são muito mais vagos. Tem que haver um trabalho constante nessa elaboração, no traçar de um destino. Há uma estrada em permanente construção. Há neste processo um chamamento, não para algo de sobrenatural ou divino, mas para um fascínio de múltiplas faces. Há, talvez, a aproximação ao desvendar de um mistério, talvez apenas o levar um pouco à frente a capacidade de comunicar. É onde uma identidade, na equanimidade, se cruza com uma cosmogonia.

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